Segunda Chance (?)

Ela continuava a mesma. Quer dizer, o cabelo vermelho estava desbotado e as lentes verdes - que por acaso, a estava incomodando - eram apenas um disfarce.

Lynce Loyal estava de volta à cidade.

 A cidade da qual ela fugira por tanto tempo. Voltar ali era o mesmo que tentar suicidar-se. Lynce viveu ali por 16 anos, até o momento em que pirou, arrumou as malas e fugiu sem dar explicações a ninguém. Agora ela estava de volta, quatro anos depois. A cidade continuava sem-graça e antiquada e os balanços do parque não haviam sido trocados. A cabana da praia continuava do mesmo jeito. Ali ela dera seu primeiro beijo. O Posto do Joe continuava com o letreiro antigo de neón que indicava a direção errada. Foi ali que Lynce parou antes de sumir no mapa. Comprou alguns chocolates, pintou os cabelos naquele banheiro imundo e entrou na sua caminhonete surrada e partiu. Nada naquela cidade mudara. Lynce entrou na mesma caminhonete que um dia a levou de lá e partiu a procura de um hotel.  Não muito longe dali, havia um hotel simples e pequeno no qual ela se hospedou. Pegou as chaves e entrou no quarto. Jogou a mala em cima da cama e foi tomar a uma ducha. Ela tinha muito o que fazer. Abriu sua bolsa e pegou uma caixinha com uma mulher sorridente estampando-a. Ia tingir os cabelos de preto, sua cor natural. Ia aposentar as lentes e reecontrar sua mãe. Lynce sofrera demais com sua mãe. Seus dias ali, foram nublados e chuvosos. Tristes e vazios. Por isso ela fugira.

Tudo estava pronto.

O cabelo pintado, as lentes aposentadas - mostrando seus olhos castanhos e realçando suas sardas -, e ela estava pronta para reencontrar sua mãe. Se enfiou na sua caminhonete surrada e andou por todas aquelas ruas familiares até encontrar sua antiga casa. Lynce desligou o carro e suspirou. Fechou os olhos e fez a oração que sua avó lhe ensinara.

Lynce hesitou e se arrependeu.

Lligou o carro e partiu. Tudo aquilo já doeu uma vez. Não precisa ter uma segunda. Por que renunciar a liberdade que um dia ela tanto quis?