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domingo, 27 de novembro de 2011

Ah, Zé...



- O tempo está frio, não é?
- Eu sei que você não quer falar do tempo, Zé.
- É, é verdade. Quero falar sobre outra coisa.
- Sobre o quê?
- Quero saber o que seus olhos castanhos escondem. Eu sei que por trás deles há alguma coisa que você me esconde e te conhecendo do jeito que eu te conheço, sei que você guarda muita dor aí no seu coração. Me fala o que acontece.
- Ah Zé, sabe o que é você se olhar no espelho e não reconhecer quem é a pessoa que está refletida ali? Eu vejo alguém sem um sorriso, alguma imagem distorcida de mim mesma. Mas eu me recuso a acreditar que aquela pessoa que está ali no espelho seja eu. Eu sei que o tempo passou e eu mudei mas sei lá... Zé, eu estou cheia de cicatrizes de cirurgias malfeitas. Eu tenho uma cirurgia de uma retirada de um amor e ela foi mal sucedida. Também tenho uma cirurgia de implantação de dor e desespero e as suturas não foram tão bem feitas pois o sangue escorre mas não me mata, só fica ali, na espera de alguém vir costurar novamente. Vou te dizer uma coisa Zé, antes, doía pra burro, agora, não dói tanto. Acho que eu já me acostumei, sabe? Contando assim, parece que é ruim, mas não é não! Parece ruim mas depois de um tempo melhora... Ou piora. Depende do ponto de vista. Uma das coisas boas de se privar de sentimentos, Zé, é que você vive no piloto automático a maior parte do tempo e assim, não tem tempo para saber se tal coisa dói, se tal coisa machucou, se tal coisa fez chorar. Você deve estar me achando um monstro, mas é assim que eu faço para viver. Ou melhor, sobreviver nesse mundo louco. E tem também aquele negócio de ninguém me querer por perto, ainda mais comigo nessa condições de tristeza vinte e quatro horas por dia. Eu me sinto tão sozinha ultimamente... Você tem todo o direito de ficar bravo comigo depois dessa conversa, achando que eu não te amo mas se amor é querer o bem da pessoa e querer ela sempre por perto, então eu te amo mesmo. E falo isso fora piloto automático. E é isso aí. Eu te contei sobre como eu sobrevivo nesse mundo e como eu me sinto. E é assim que é a minha dor diária. Desse jeitinho que eu descrevi para você.
- Nossa, eu nem sei o que dizer...
- Não precisa dizer nada Zé. Só me abraça e promete que nunca vai me deixar.

Na sintonia de: It Will Rain - Bruno Mars ♪

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