Apreciadora do silêncio e de gostos simples, Zia era uma companheira perfeita e agradável. Nada a fazia mais feliz do que deitar em algum lugar confortável e ao meu lado e ficar horas e mais horas lendo. O cabelo curto, cor de fogo e com cachos rebeldes de Zia tinha sempre cheiro de alguma fruta silvestre e seu cheiro ficava dias e dias impregnado em minha casa, em meu travesseiro. Em mim.
Zia era pequena, frágil. Do tipo de menina que você tem medo de abraçar muito forte com medo de quebrar mas ao mesmo tempo tem vontade de abraçar forte para nunca deixá-la partir. Nunca pedi para Zia ficar. Ela era um espírito livre, indomável. Ela não sabia amar. Não sabia estabelecer conexões ou raízes.
Zia, que havia dormido em meus braços, acordou e sorriu para mim e me beijou. Me beijou daquele jeito dela. Um beijo intenso, desesperado e urgente. Logo depois nos despimos e eu a tive. Sabia que logo de manhã Zia partiria e voltaria quando bem entendesse, por isso eu a amei demoradamente e inconsequentemente. Era um capricho, era luxúria mas eu merecia. Toda vez que Zia partia, meu coração de despedaçava. Tudo estava normal até Zia me olhar com os olhos marejados e dizer que estava doente, prestes a morrer. Perguntei o que ela sentia e ela apontou para o coração dizendo que toda vez que pensava em partir para longe de mim, seu coração doía, suas mãos tremiam, sua vista embaçava, seu equilíbrio falhava e ela suava frio. Ela também dizia que não conseguia pensar em outra coisa além da minha voz e de contar quantas horas faltavam para ela voltar para os meus braços. E por fim, dizia que a sensação era que ela morria em vida. Que ela desfalecia toda vez que pensava em partir e me deixar.
Mesmo não sendo formado em Medicina e nem sabendo muita coisa sobre, até um leigo diagnosticaria a doença de Zia.
Era amor. Amor por mim.
Na sintonia de: Naive - The Kooks
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