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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A metamorfose ambulante com crise existencial



 Eu sempre quis ser "médica da cabeça e da alma" (vulgo psicóloga). Eu sempre gostei de ler e escrever. Eu sempre tive vontade de fazer uma tatuagem em homenagem aos meus pais. Eu sempre achei que quem tem um amor, um trabalho legal e uma mente desencanada era muito feliz e claro, nunca achei que um dia eu ia chorar de saudade. Mas não é bem assim. Não é fácil viver mas também não é tão difícil assim. É que nem uma picada de abelha. Primeiro dói muito e coça mas depois você se acostuma.
  É esse o problema.
  Se acostumar com a dor.
  Eu sempre gostei cantar. Sempre quis  lançar um livro. Nunca quis não me jogar de cabeça. Tudo isso sou eu. Tudo isso faz parte de mim. A saudade de um pai, um livro chato deixado pela metade em cima da prateleira empoeirada, o calendário cheio de anotações (desde anotações importantes até feriados banais), a vontade de fazer muito mais daquilo que está ao meu alcance...
  Eu sou eu mas eu não sou eu às vezes. Quer dizer, eu sou eu mas às vezes eu não quero ser eu. E às vezes, eu me imagino de outro jeito. Me imagino com outra cor de cabelo, cor outra cor de olhos, com outro tipo de corpo, com outros tipos de sonhos... mas aí eu paro para pensar: "Ei, eu até que gosto de ser complexamente complicada como eu sou" e aí, toda vontade de mudar desaparece.
  Eu gosto das pequenas estrias que eu tenho ao lado da barriga porque são as minhas "cicatrizes de batalha". Assim como as cicatrizes das inúmeras vezes que eu caí da bicicleta, da cama, do muro... Tudo isso que faz a Victória, ao mesmo tempo faz a Pandora porque eu sou eu mas às vezes eu me imagino sendo a Pandora. A Pandora é tudo aquilo que eu não sou. Eu até arriscaria em dizer que a Pandora tem qualidades que a Victória não tem mas deseja. Mas a Pandora não é tão feliz, realizada e complicada assim.
  A Pandora não segura o choro quando o Zé vem dizendo que está com saudade de quando ela escrevia. A Pandora não gosta de ler debaixo do sol, no carro em movimento, no ônibus lotado. A Pandora não é a Victória e a Victória não é a Pandora mas mesmo sendo diferentes, elas são felizes como são, afinal não dá para mudar o interior sem causar danos. A Victória não liga para as cicatrizes, até acha as acha charmosas. A Victória está feliz mesmo seu corpo não pertencendo aos "parâmetros" da moda. Ela é feliz quando vê o Zé e o escuta dizer que está com saudade das crônicas dela. Ela fica feliz quando vê a família reunida e rindo. A Victória é feliz lendo livros, beijando o namorado, estudando História, pensando no futuro e decidindo qual vai ser a cor do vestido de formatura dela. Ela é feliz mesmo que às vezes não pareça ser, mesmo que às vezes queira ser a Pandora mas depois de cinco segundos, essa vontade de ser outra pessoa some. A Victória é feliz porque quando acorda se perguntando de onde veio, para que veio e para onde vai, sabe que pode pedir ajuda pro Zé, pra família, pro namorado porque a parte legal de não ser a Pandora, é ser feliz sendo o que é e como é.


She&Him - Never Wanted Your Love 



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